Retratamento com Cones de Prata

Não é frequente, pelo menos em Portugal, surgirem tratamentos endodônticos onde a obturação tenha sido feita com cones de prata. Definitivamente não foi uma técnica que, mesmo quando era novidade e ainda não se conheciam desvantagens, tivesse tido grande aceitação ou difusão pelos médicos dentistas portugueses.

O tratamento de um dente obturado previamente com cones de prata reveste-se de dificuldades especiais, o que o torna num retratamento, já de si um procedimento de elevado grau de dificuldade, em algo arriscado, imprevisível e verdadeiramente desafiante para um endodontista.

O paciente apresenta uma periodontite apical assintomática no 4.6, com um tratamento endodôntico prévio insatisfatório e uma fragilidade estrutural que urge corrigir com uma reabilitação fixa. O dente terá sido obturado com cones de prata, que foram cortados na entrada dos canais, no caso dos mesiais, estando o cone de prata do canal distal retido na metade apical da raíz, com guta a preencher a metade coronária… Qual terá sido a ideia, continuo sem entender…

O tratamento foi iniciado com uma abordagem exclusiva na câmara pulpar, de maneira a corrigir a entrada dos canais e permitir a visualização dos cones de prata. Os vídeos passam por defeito em HD. Se precisar, diminua a qualidade do vídeo.

Após visualização dos cones de prata dos canais mesiais, comecei a trabalhar directamente sobre eles com ultra-sons. Dada a ductilidade da prata é imprescindível que os ultra-sons trabalhem com baixa potência e durante períodos curtos de tempo.

Apesar do cone de prata do canal ML ter sido removido com relativa facilidade, e só com recurso à ponta de ultra-sons ProUltra 3, o caso foi outro no cone de prata do MV. Apesar dos ultra-sons terem conseguido aumentar a sua mobilidade, o cone de prata teimou em não sair, a ponto de me fazer mudar de planos. A remoção acabou por ser conseguida com o sistema IRS.

A remoção dos cones de prata dos canais mesiais foi comprovada radiograficamente, para garantir que não restaram quaisquer fragmentos a bloquear os canais.

A remoção do cone de prata do canal distal foi a mais complicada, o que já era esperado… Removeu-se a guta-percha coronária com recurso a limas ProTaper Retreatment, e dada a localização mais apical do fragmento de cone de prata, a remoção foi inteiramente realizada com recurso a limas ultra-sónicas.

Após a remoção do fragmento do canal distal, que como se pode ver no vídeo tem o seu ponto chave aquando do ligeiro jacto de ar, foi feita nova radiografia de confirmação.

Ainda que esta altura possa parecer aquela que permite suspirar de alívio, ainda muitos obstáculos podem ser encontrados… Bloqueios, transporte do canal, degraus, etc, são dificuldades que serão agora avaliadas. Sem grandes dificuldades, felizmente, consegui negociar e permeabilizar todos os canais, tendo instrumentado com técnica híbrida ProTaper/ProFile, e obturado com System B e Obtura II.

O selamento intracoronário foi realizado com Tetric flow transparente e o coto realizado com Multicore. O próximo passo é a confecção de uma coroa fixa, que concluirá a reabilitação deste dente.

33 thoughts on “Retratamento com Cones de Prata

  1. Afinal ainda digo uma coisa…. A guta em coronal do distal devia ser de um retratamento (tentativa) anterior ao teu e que perante a incapacidade terminaram com a obturação do que conseguiram destruir do cone de prata distal!

  2. Acabo de conocer el blog!! Es maravilloso. Enhorabuena!!

    Rui que caso tan fantástico!! La resolución es excelente y la documentación increble!! Enhorabuena.
    Quisiera dejarte un pequeño tip. Para liberar las puntas de plata de las paredes axiales de cámara y del tercio coronal del conducto funcionan genial las trefinas del sistema “Remove All” de Sybron Endo. Creo que se pueden comprar por separado las trefinas y no son muy caras. Un saludo!!

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